O seu nome desfila nos créditos dos noticiários e programas informativos do turno da manhã da TELEVEN. Para muitos, o seu trabalho pode passar despercebido, mas a verdade é que o seu trabalho é uma peça fundamental no desenvolvimento da televisão. Trata-se de Omar Clemente de Abreu Amador, um esbelto homem de mais de 50 anos, filho de um madeirense que chegou cheio de ilusões à Venezuela em 1948.
Omar é um homem que ‘destila’ pelos poros o significado de família, gosta de conversar com o seu pai sobre a chegada e de todas as experiências que esta decisão desencadeou. Há quase 30 anos que trabalha no mundo da televisão, onde ocupou diferentes postos. Como tantos, Omar começou do zero neste ambiente. “Foi por casualidades da vida. Estava desempregado e tinha um amigo, Douglas, que trabalhava na Rádio Caracas; ele disse-me que precisavam de motoristas no canal e comecei assim”, conta.
Os primeiros dias fora difíceis, não receber a recompensa justa poderia desanimar qualquer um. “Sempre gostei de trabalhar, mas eu não gostava desse emprego porque pagavam-me muito pouco e pus-me a pensar que ficaria três meses e sairia, mas o tempo foi passando e comecei a envolver-me e fui ficando, comecei a fazer cursos e aqui estou há 30 anos”, disse.
Depois de ter saído num despedimento colectivo na RCTV, Omar ingressou num novo canal que ainda estava em teste, a Meridiano Televisión, onde trabalhou durante cinco anos até que um colega o convidou a fazer provas para entrar na TELEVEN, canal em que actualmente trabalha como operador de câmara. “Fui operador de vídeo, de VTR e de áudio. Ia fazer um curso de realização mas não quero morrer de enfarte, porque toda a pressão do estudo cai sobre o realizador”, comenta sobre o seu trajecto.
Por amor ao trabalho
O seu dia começa às quatro da manhã, não é por acaso que às oito da noite já esteja a dormir, um horário que poucos compreendem. Pertencer ao mundo da televisão requer um grande sacrifício. “Nós começamos às cinco e meia da manhã até às nove, sempre seguido, ouvindo más notícias. Agora não é como antes, que havia mais programas de variedades ao vivo, saías da informação e distraías-te com outras coisas. Neste meio sabes sempre a que horas começas mas não sabes a que hora terminas. A televisão absorve muito”, diz Omar.
Antes de pertencer a este meio, Abreu trabalhou durante um tempo como costureiro numa fábrica de calçados e por coisas da vida não pôde alcançar o sonho de converter-se em engenheiro de automóveis. Foi assim que deu de caras com o trabalho que se converteu no seu amor eterno, a televisão. “Este meio é uma escola em que todos os dias vais aprendendo algo novo. Quando gostamos de algo, as coisas são absorvidas com mais facilidade.”
A sua jornada diária termina com o noticiário meridiano, depois disso há sempre algo mais para fazer. “Às vezes vou passear, caminhar num centro comercial para esquecer-me de tudo o que vi no canal. Isto se não estiver a ver televisão, porque se não a faço, vejo”, diz, a sorrir.
Ainda que às vezes o meio possa ser muito restrito e asfixiante, não se pode negar que chegam sempre as satisfações e as experiências que marcam a vida de cada trabalhador. “Houve uma mini-série que gravámos na RCTV, ‘Os emigrantes’. Marcou-me muito porque recordava-me o meu pai, tal como fizeram; foi assim que o meu pai chegou aqui, e dá-me muita emoção quando me recordo disso”, revela sobre a série que também lhe deixou grandes amigos como Cacique Sotero, que faleceu há pouco tempo e “com quem aprendi tudo o que sei”.
Um homem de família
Nunca teve a oportunidade de ir a Portugal, conhece a Madeira pelo que o seu pai lhe conta, e ainda que não fale português, entende perfeitamente. Pede sempre férias em Dezembro para conviver com o pai e continuar com uma tradição bem enraizada. “Mantemos o mês de Dezembro bem português, matamos os porcos, bebemos vinho porque o meu pai tem as suas videiras e ele mesmo faz o seu vinho e o vinagre”, conta.
Omar é divorciado e tem dois filhos, que lhe iluminam o olhar quando fala de eles. Nunca perde a oportunidade de conviver com eles, manter uma boa conversa e transmitir-lhe os mesmos valores que os pais lhe deram. “Omar é oficial do Exército e Harold é técnico de informática, os dois são bons rapazes. Os meus filhos são a coisa mais bela que Deus me deu”, conclui.