Quando decidi escrever este artigo e abordar este assunto, lembrei-me inevitavelmente do nosso anterior embaixador o bom amigo Dr. Mario Lino Da Silva. Falamos disto muito vezes e foi assunto de conversa em encontros e serões. Aproveito para fazer-lhe um reconhecimento público e manifestar a minha admiração por ele e pelo trabalho que fez durante a sua estadia como nosso máximo representante na Venezuela.
Talvez no seu retiro de Palmela perto de Lisboa, donde penso eu que está agora e aproveitando as tecnologias que dispomos nos nossos dias, até pode ser que ele leia esta crônica, assim que vai para ele o meu agradecimento e a minha consideração. Um abraço, Dr. Mario Lino.
Lembro-me das vezes que falamos na necessidade imperante que tinham as associações, instituições y clubes portugueses de incorporar às suas atividades a chamada “Geração de Relevo”, que não são mais que os nossos filhos e os nossos netos. Isto para garantir a continuidade das tão importantes e proliferadas atividades da comunidade e porque não da vida a curto e médio prazo dessas mesmas instituições.
Se bem é certo que já em varias de elas essa “Geração de Relevo” está a tomar posição no terreno, pois já vemos um nutrido grupo de jovens mulheres, por exemplo, na diretiva do Lar Padre Joaquim Ferreira, ou vários rapazes na direção do Centro Português, donde a grosso modo contando com uma mão o numero de diretores nascidos em Portugal, de certeza que ficam a sobrar os dedos, ou como apreciei em dias recentes na Comissão Pro Celebração do Dia da Região Autônoma da Madeira e das Comunidades Madeirenses, já com netos incorporados, o qual me enche pessoalmente de muita satisfação. Por certo para essa comissão na pessoa do bom amigo e presidente Engenheiro Paulo de Sousa, os meus parabéns por dois eventos tão especiais e tão espetaculares. Nota-se a transição desejada e natural de gerações e o trabalho conjunto de ambas, como devem ser.
Mais recentemente, também durante a realização da quermesse do dia da Madeira no Centro Português, a participação ativa de jovens de segunda geração foi importante, mas é preciso dizer que foi muito aquém daquilo que se espera e se necessita. Os que estavam eram dos bons e o seu trabalho foi fundamental. Entendo que a quermesse foi um êxito em todos os sentidos. Parabéns a todos.
É normal que a comunidade portuguesa de primeira geração vaia envelhecendo e conhecendo a “nossa raça” e a sua teimosia, sei que muitos são fortes opositores a deixar as instituições donde trabalharam durante anos com tanta dedicação e com tanto êxito assim de um dia para o outro e para mais nas mãos de uns “miúdos” e “miúdas” que até muitos deles, nem falam português. É verdade há muitos que não falam português, mas isso é tema que fica para outro dia e já falaremos disso noutro artigo.
O fato de não falar português não lhes tira o valor para assumir responsabilidades. Os nossos jovens, a nossa Geração de Relevo, foi educada com valores de vida sólidos e típicos dos portugueses. Tenho a certeza que dando-lhes a confiança que merecem, não vão defraudar. Com a sua integração vão chegar novas idéias, novas formas de trabalhar, maneiras de simplificar sistemas e procedimentos e é preciso estar aberto de mente e de alma para essas coisas. Para começar não se esqueçam que o que ontem foi eficiente, produtivo, bom, exitoso e que deu grandes resultados, não é garantia de que amanhã o seja. Isso também não quere dizer que o que antes se fez, agora não presta. De maneira nenhuma. Ai pode estar a verdadeira sensibilidade da primeira geração. O valor do trabalho feito e da forma como se fez é muito respeitável e tenho a certeza que ninguém vai dizer o contrario, mais bem só há que agradecer. Muito obrigado a todos.
Por outro lado uma aparente apatia das novas gerações e que talvez seja a grande preocupação dos mais experientes, tem que ser descartada. Está nas mãos dos atuais atores promoverem e proporcionar o despertar desses jovens. E também é certo, não estamos aqui para enganar ninguém. Há algumas das grandes figuras de algumas instituições que já estão pedir relevo. Que ninguém se chateie, mas é assim. Temos saber quando a nossa missão está cumprida e quando é a hora de abrir caminho à juventude. Isso é de sábios.
Por ultimo não podia deixar de enviar uma mensagem a essa Geração de Relevo que ainda não emergiu porque já há muitos a trabalhar para a comunidade e seria injusto não o dizer. Está à vista também que muitos já assumiram funções importantes das empresas e dos negócios dos vossos pais e muitos até nos seus próprios negócios. Para começar, tenham sempre um grande orgulho de ser portugueses. Os portugueses desde o tempo das descobertas que somos cidadãos do mundo. O fato de ter um passaporte que diz que são portugueses não basta. É preciso alguma coisa mais. É preciso atuar com verdadeira alma lusitana e com o espírito de luta que os vossos pais e avós vos ensinaram. Com afeto, com solidariedade e com muita responsabilidade social. Nem tudo o que está à vista é a realidade ou a verdade absoluta da nossa comunidade. Neste país de acolhimento vivem muitos conterrâneos nossos invisíveis para a grande maioria e lamentavelmente a vida não sorriu igual para todos. Não é hora de perguntar por que, se foi por culpa própria ou por culpa alheia. É hora de atuar em bloco e como comunidade unida que somos. Uma só comunidade solidaria e amiga. Nos tempos difíceis é que surgem os grandes homens e as grandes mulheres. Estão chamados a serem os novos heróis desta comunidade que tanto tem dado e que tanto tem feito por aqueles mais desfavorecidos. O reto é grande e não é fácil, mas não tem desculpas, mais bem tem a vantagem de serem portugueses nascidos na Venezuela. Tem nas mãos o melhor dos dois países. A Venezuela é terra de graça e foi generosa convosco e com os vossos pais e avós. Apesar das dificuldades, sempre encontraremos a ocasião e a oportunidade para ajudar a quem mais necessita. Está na hora “Geração de Relevo”. Tomem posição e ocupem o espaço a tem direito. É um dever. Obrigado desde já a todos.