“A Comunidade portuguesa na Venezuela é fantástica”

Cônsul-Geral de Portugal em Caracas faz um balance aos seus primeiros seis meses no país

0
1312

Desde a sua chegada à Venezuela, a 27 de Agosto de 2014, Luiz de Albuquerque Veloso tem assumido com grande entusiasmo a responsabilidade de ser, pela primeira vez, Cônsul-Geral de Portugal numa cidade tão distante do seu país natal, como é o caso de Caracas. Uma função que não pressupõe um desafio extra, já que os cônsules anteriores, como ele próprio frisou, deixaram um excelente trabalho feito que permite que o consulado funcione muito bem e com uma vivacidade assinalável.

“Apesar de já ter sido responsável em Budapeste pela secção consular na embaixada, este é um cargo que realmente ainda não havia desempenhado. Mas foi com grande entusiasmo e interesse que pedi para vir para a Venezuela, já que muitas pessoas já me tinham falado do país, das suas óptimas temperaturas e da qualidade da sua população, especialmente a qualidade da Comunidade portuguesa. Sem dúvida que a minha primeira experiência como Cônsul tinha que ser em Caracas”, afirma, convicto.

Em entrevista exclusiva ao CORREIO da Venezuela, o actual Cônsul-Geral de Portugal em Caracas assegurou que não encontra outra palavra que não a “fantástica” para descrever a Comunidade luso-venezuelana.

Contactou com os cônsules anteriores?
Sim. Primeiro telefonei à Dra. Isabel Pedrosa porque a conhecia melhor, que me disse maravilhas sobre da Comunidade portuguesa e do Posto. Depois falei com o Dr. Paulo Santos, e ele explicou-me como era o funcionamento e o trabalho no consulado. De facto, dei-me conta de que ambos são muito apreciados e fizeram um grande trabalho aqui, pelos que é difícil suceder aos meus colegas.

Antes de chegar, que objectivos se propôs alcançar como Cônsul?
Os meus objectivos são os de qualquer Cônsul: servir o melhor possível a Comunidade portuguesa. Estou consciente de que a razão de ser dos consulados é precisamente servir os portugueses que vivem nessas áreas. São uma extensão do serviço público português e quem vive no estrangeiro necessita desses serviços.
Com o espírito de ajudar mais os portugueses, quero continuar com as permanências consulares. É uma tarefa muito importante e uma excelente decisão do Governo português, já que os portugueses por esse país fora sentem-se realmente acompanhados; não só pelo aspecto prático e útil da prática dos actos consulares, sobretudo a emissão de documentos, mas também, por ex., procurações ou nacionalidades em diversas localidades, mas também porque as pessoas sentem uma presença de Portugal nas zonas onde vivem. Quando a Dra. Isabel Pedrosa começou com as jornadas consulares, ainda não havias as máquinas portáteis para fazer os passaportes, pelo que as ditas jornadas serviam principalmente para facultar informação. Mas agora já as temos, começaram a funcionar com o Dr. Paulo Santos. Trabalhamos off-line e depois executamos no consulado os demais passos necessários para emitir esses documentos. Quando há consulados honorários, enviamos-lhes os documentos para os entregarem aos seus titulares, mas nas zonas em que não existe um consulado honorário, normalmente as pessoas viajam até Caracas para os levantar.

Quantas jornadas já realizou desde a sua chegada ao país?
Em seis meses e meio já fizemos permanências consulares em Los Teques (várias), ilha Margarita, Rio Caribe, Barcelona, Ciudad Bolívar, Puerto Ordaz e Guatire. Já temos também um programa para fazer novas jornadas em San Juan de los Morros, Puerto Ayacucho, Valle de la Pascua, Maturin, Tucupita e Cumana. Para o próximo ano penso realizar visitas às ilhas que também pertencem à jurisdição do Consulado-Geral de Portugal em Caracas, que são Trinidad e Tobado, Antigua e Barbuda, San Vicente e Granadinas, Suriname, Barbados, Jamaica, Curaçau, Aruba e Bonaire.

Um momento engraçado aconteceu quando há pouco tempo fizemos uma jornada em Rio Caribe, à qual não compareceram muitas pessoas, mas deu-me especial prazer atender uma senhora cujo bilhete de identidade estava vencido desde 1958 e que me disse que se não tivéssemos lá ido, não teria renovado o documento. E eu disse-lhe que guardasse o bilhete de identidade vencido porque já era uma relíquia que eu nunca tinha visto (risos).

Como é o dia-a-dia no Consulado?
Abrimos todos os dias úteis às 7h30 da manhã e há sempre muita gente à espera. Começamos a atender as pessoas por meio de um sistema de senhas que ajuda bastante. O número de utentes e de documentos tratados varia diariamente. Todos os dias recolhemos dados para uma média de 70 passaportes, bastantes nacionalidades e registos de casamentos, procurações, e também são-nos solicitadas muitas informações. Actualmente temos praticamente tudo em dia, sendo certo que a grande afluência do público não nos permite responder sempre com a celeridade querida pelos interessados e por nós, estando um pouco atrasados alguns algumas áreas do registo civil, mas onde estamos a investir e muito brevemente tudo estará em dia. De facto, apenas usamos o sistema de marcações para as nacionalidades e procurações. Fiz algumas alterações quanto ao horário de atendimento ao público, que agora é das 7h30 às 15h, sem parar à hora do almoço, período em que todavia há um abrandamento pois os funcionários revezam-se para almoçar. Também fizemos alteração de computadores e sistema informático, que já estava previsto no âmbito de um plano de modernização querido pelo Governo, assim como remodelações nalgumas zonas públicas do edifício.

E o seu dia-a-dia como Cônsul?
Exactamente igual. Acompanho os actos consulares que se realizam durante todo o dia e respondo, juntamente com a chanceler Maria da Graça de Sousa, aos e-mails das pessoas que nos pedem informações. Estou em constante comunicação com Lisboa. Procuro solucionar os problemas que vão surgindo, mas o mais importante é acompanhar a Comunidade, aceitando os convites que me chegam por parte das diferentes instituições. Por exemplo, amanhã tenho uma matança do porco e no Domingo um cozido à portuguesa na Sociedade das Damas de Beneficência. Isto é fundamental, já que me permite entender as dinâmicas e necessidades da Comunidade portuguesa com quem me dá tanto gosto estar.

Como vê o pessoal que trabalha no Consulado?
Creio que o Consulado funciona muito bem porque tem um pessoal muito qualificado e trabalhador. Actualmente, temos 16 funcionários, que sabem fazer muito bem o seu trabalho. Muito raramente há utentes que se queixam, porque dizem que não somos tão delicados como poderíamos ser, mas penso que todos devem ter em atenção de que se trata de um trabalho muito cansativo e exigente já que quotidianamente se atendem muitas pessoas, entre as 7.30 da manhã e as 3 da tarde, fazemos uma média de 270 actos consulares por dia! Também é minha responsabilidade como Cônsul criar um bom ambiente entre os funcionários e incentivá-los a sentirem-se satisfeitos com o trabalho que realizam.

Considera que existe alguma contrariedade no dia-a-dia do consulado que necessite de ser alterada?
Penso que não, para além dos ajustes pontuais sempre necessários. Quando cheguei dei-me de conta que tudo está funcionando bem e perguntei-me: o que é que posso fazer para melhorar? Temos uma equipa eficaz, boas instalações e uma boa dinâmica de trabalho. A dificuldade que encontro é quando, em algumas ocasiões, o sistema não funciona bem por falhas da internet ou questões técnicas. Mas tudo se resolve em pouco tempo.

Consegue definir numa palavra a Comunidade portuguesa?
É uma Comunidade fantástica. Não o digo para ser agradável, mas sim porque é o que sinto. Posso dizer que o que me haviam dito antes de vir é verdade. São pessoas que tiveram uma vida difícil, mas contam a sua história sem dor ou pena. Poucos são os que encontrei contrariados com a vida que viveram e têm um extraordinário espírito de iniciativa. As associações, clubes e instituições que tenho visitado em todos os estados da minha jurisdição são fantásticas. É uma Comunidade que ainda que possa, como alguns dizem, não ser tão unida, em momentos de crise ou necessidade nunca deixa de ajudar quem precisa. É fantástica não só pelo dinamismo que mostrou ao vir para cá, estabelecer-se, trabalhar arduamente e criar numerosas empresas ou instituições lusas, mas também porque demonstra um grande compromisso no desenvolvimento do país e em grandes projectos sociais como o Lar Padre Joaquim Ferreira, a Sociedade de Beneficência de Damas Portuguesas ou as Academias do Bacalhau e da Espetada, entre muitas outras. Não posso deixar e nomear os Conselheiros das Comunidades portuguesas, que também são notáveis, ajudam e estão dispostos a comparecer cada vez que os convoco para tratar de diferentes temas. Os cônsules honorários também realizam um trabalho de grande entrega, tal como são excelentes os meios de comunicação social portugueses que apoiam os consulados e a embaixada e divulgam as suas actividades e iniciativas.

Quanto aos consulados honorários, pensa que é necessário criar mais algum?
Ainda não disponho de conhecimento suficiente sobre a Venezuela para saber se se justifica que algumas zonas tenham um consulado honorário, em virtude, sobretudo, da presença de um grande número de portugueses. Penso que não, pois parece-me que já existem onde vive o maior número de portugueses, mas não quero afirmar isto até conhecer melhor o território nacional. Dito isto, estou disposto em visitar as zonas em que possa haver alguma necessidade especial e eventualmente sugerir a criação de algum novo consulado honorário.

Por agora, posso informar que a Sra. Glória Santos já foi nomeada pelo Governo português como cônsul honorária de Portugal em Nueva Esparta (ilha Margarita), faltando ainda ser aceite pelas autoridades venezuelanas. Ela começou por fazer algo que me parece muito vantajoso, que foi mudar as instalações do consulado honorário para o Centro Social Luso Venezuelano de Margarita, o que lhe dá maior visibilidade mesmo perante a Comunidade.

Em relação aos Conselheiros das Comunidades. Quando é que serão realizadas as eleições?
– Não sei dizer ainda. Como todos sabem, o processo tem sofrido atrasos devido ao processo de elaboração e aprovação de uma nova legislação sobre o tema e sobre o funcionamento do Conselho. O Senhor Secretário de Estado José Cesário disse na última vez que esteve cá que seria durante o primeiro semestre deste ano. É importante que a Comunidade vote e escolha os seus conselheiros porque eles integram um órgão consultivo e representam, assim, as necessidades e inquietudes da Comunidade portuguesa perante o Governo português. Penso que às vezes as pessoas não se sentem suficientemente motivadas para votar nas eleições portuguesas, mas desde já apelo a todos para que participem não só nas eleições dos conselheiros como também nas dos órgãos de soberania do nosso país, já que se trata de um direito para expressar a sua opinião e pontos de vista.

Gostaria de enviar uma mensagem à comunidade?
– Primeiro que tudo, agradecer a forma sempre tão simpática e amiga com sempre que me recebem, bem como o apoio que me têm dado nestes seis meses e meio, desde a minha chegada à Venezuela. Segundo, dizer-lhes que é importante que mantenham sempre os seus documentos actualizados. Finalmente, quero chamar a atenção para o facto de ser uma pena que não se fale português. Dei-me conta que às vezes os pais não promovem o conhecimento do idioma nas suas casas. Creio que é necessário um esforço para que as novas gerações estudem e falem a língua portuguesa.

Depois de Caracas, para onde irá Luiz de Albuquerque Veloso?
– (Risos) Não sei o futuro da minha carreira diplomática, mas gostaria de conhecer outros países e outros continentes e aí continuar a servir os portugueses e Portugal.

Artículo anteriorParticipação de Portugal na Filven foi um sucesso
Artículo siguienteJornada social em Anzoátegui
Editor - Jefe de Redacción / Periodista sferreira@correiodevenezuela.com Egresado de la Universidad Católica Andrés Bello como Licenciado en Comunicación Social, mención periodismo, con mención honorífica Cum Laude. Inició su formación profesional como redactor de las publicaciones digitales “Factum” y “Business & Management”, además de ser colaborador para la revista “Bowling al día” y el diario El Nacional. Forma parte del equipo del CORREIO da Venezuela desde el año 2009, desempeñándose como periodista, editor, jefe de redacción y coordinador general. El trabajo en nuestro medio lo ha alternado con cursos en Community Management, lo que le ha permitido llevar las cuentas de diferentes empresas. En el año 2012 debutó como diseñador de joyas con su marca Pistacho's Accesorios y un año más tarde creó la Fundación Manos de Esperanza, en pro de la lucha contra el cáncer infantil en Venezuela. En 2013 fungió como director de Comunicaciones del Premio Torbellino Flamenco. Actualmente, además de ser el Editor de nuestro medio y corresponsal del Diário de Notícias da Madeira, también funge como el encargado de las Comunicaciones Culturales de la Asociación Civil Centro Portugués.

Dejar respuesta

Please enter your comment!
Please enter your name here