As tradições que fazem da Madeira um lugar único

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O Arquipélago da Madeira é rico em tradições culturais, que resultam da vivência e dos usos e costumes do povo madeirense. Existem muitas tradições de cariz religioso, fortemente entranhadas na cultura dos madeirenses, mas também tradições ligadas ao artesanato, à música, e até mesmo à evolução da economia da ilha.

Missas do Parto

De 16 a 24 de Dezembro, a Madeira celebra uma das suas principais tradições de Natal: as Missas do Parto. Um pouco por toda a Região, estas nove Missas , representam os nove meses de gravidez da virgem Maria, anunciam o Nascimento de Jesus e primam pelos seus cânticos católicos, nomeadamente a «ladainha» entoada por coros afinados.

No final das Missas, a animação faz-se sentir nos adros das igrejas, onde a população se reúne após a missa, no adro das igrejas há uma animação com comes e bebes nas tradicionais barracas.

Estas missas são celebradas de madrugada, por volta das seis horas da manhã.

Missa do Galo

A Missa do Galo realiza-se à meia-noite de 24 para 25 de dezembro e anuncia o nascimento do Menino Jesus.

É chamada Missa do Galo, devido à lenda de um galo, que se acredita ter sido o primeiro animal a presenciar o nascimento do menino Jesus, o que fez com que este galo passasse a anunciar todos os natais, o nascimento de Cristo através do seu canto.

Traje Regional

O traje tradicional da Madeira é objeto de muitas especulações no que diz respeito à sua origem e evolução. Calcula-se que sofreu várias influências nacionais e estrangeiras, sobretudo minhotas, mouriscas, africanas e da Flandres. É comum encontrar-se vendedoras de flores e funcionários de restaurantes vestidos com o traje típico madeirense.

No traje feminino predomina a cor vermelha. As mulheres casadas e solteiras, na Ponta do Sol, usavam capas de cor vermelha enquanto as viúvas usavam capas azuis.

O tipo de vestuário no Funchal, Machico e Santa Cruz era composto por saia de lã, de cor ou listada, um colete e um corpete vermelhos e uma carapuça azul.

O traje masculino não foi alvo de muitas transformações. É composto por um calção branco com franzido sobre o joelho, uma camisa com pregas que podia ser bordada ou não.

As botas, chamadas «bota-chã», feitas de pele de vaca curtida, eram usadas tanto por homens como por mulheres. O cano da bota é virado para fora e desce até ao tornozelo, nas mulheres é adornado por uma fita vermelha.

Colar de Rebuçados

Os tradicionais colares de rebuçados típicos encontramos à venda em qualquer arraial na Madeira.

Antigamente, quando o dinheiro não dava para grandes despesas, o colar de rebuçados era a alegria dos mais novos.

Hoje, os tempos são outros e o número de vendedores e as variedades de guloseimas aumentaram.

Bonecas de Massa

A boneca de massa é tradicionalmente encontrada nos arraiais, e esteve em vias de desaparecimento por durante muito tempo a atividade não ter sido continuada pelos mais novos. Esta tradição foi recentemente retomada pela Casa do Povo do Curral das Freiras que convidou alguns habitantes da freguesia para aprenderem a moldar estas figuras.

É feita à base de farinha, água, fermento, corante de ovo ou de tangerina e um pouco de sal. Os ingredientes são todos misturados e a massa resultante é trabalhada manualmente de modo a dar vida à boneca tradicional. São usadas sementes para os «olhos» e fitas coloridas para fazer os cabelos e roupa. Depois vai ao forno durante 20 minutos e está pronta a ser vendida.

Arraiais

Na Madeira os meses de Verão são marcados pelas tradicionais Festas e Romarias, tradicionalmente apelidadas de “arraiais”.  Estas festas são na sua maioria de cariz religioso, no entanto existem outras que não o são.

No Arquipélago da Madeira, celebram-se em todas as paróquias festas religiosas ou romarias a maior parte das quais organizadas pelo «festeiro» – pessoa que custeia as despesas do arraial e das celebrações religiosas.

Nestes arraiais não pode faltar a animação, a cargo das bandas filarmónicas e de bandas de ritmos modernos.

As ruas circundantes à Igreja ou mesmo o sítio são enfeitadas com bandeiras coloridas que se colocam em mastros de madeira ornamentados na base com louro ou buxo

As barracas, feitas com madeira e ornamentadas com louro e outra vegetação, são ponto obrigatório de passagem para a maioria dos forasteiros. Nestes pequenos espaços de venda podemos encontrar um pouco de tudo desde guloseimas, brinquedos, bebidas, variedades gastronómicas, entre outros.

As barracas de comes e bebes são das mais procuradas nos arraiais da Madeira. Não podem faltar a espetada, o bolo do caco com manteiga de alho, o vinho da região ou a tradicional “laranjada”. A tipic «Espetada Regional» feita a base de carne de vaca cortada em cubos é colocada em espeto de louro e assada diretamente nos braseiros instalados nas proximidades das barracas. É junto ao lume que se reúnem homens e mulheres em ambiente de festa.

Festa do Senhor do Bom Jesus

A Festa do Senhor Bom Jesus, mais conhecida pelo arraial do «Bom Jesus de Ponta Delgada», realiza-se no primeiro domingo de setembro, na freguesia com o mesmo nome no concelho de São Vicente.

Antigamente a festividade, com forte carácter religioso, recebia a visita de milhares de peregrinos que percorriam a pé os caminhos que ligavam o sul ao norte da ilha, podendo demorar 2 ou 3 dias na viagem.

Hoje em dia, as romagens já não se fazem da mesma forma, e os romeiros levam a viatura própria ou então seguem até à Ponta Delgada nos transportes públicos.

Este é ainda nos dias de hoje um dos maiores arraiais da ilha da Madeira.

Os Santos Populares

O mês de Junho é sinónimo de Festa em louvor aos três Santos Populares, por toda a ilha da Madeira. Todas as paróquias vivem esta quadra de modo mais ou menos intenso.

Os Festejos em honra de Santo António estão centrados na freguesia com o mesmo nome, no Concelho do Funchal. A noite de 12 para 13 de junho fica marcada pelo desfile das marchas populares.

No dia 24 de junho realiza-se a Festa de São João. No passado, a Capela de São João da Ribeira, no Funchal, era um dos locais mais concorridos arraiais de toda a região. Hoje em dia a animação está centrada na Praça do Carmo, também no Funchal, com os conhecidos «Altares de São João».

As Festas de São Pedro, o Santo protetor dos pescadores, realizam-se de 28 para 29 de Junho, e as atenções ficam viradas para a vila da Ribeira Brava. Todos os caminhos vão dar a esta festa conhecida também pela forte animação musical, marchas populares e ainda pelos passeios de barco que algumas empresas de transporte marítimo realizam entre o Funchal e a Ribeira Brava.

Festa do Senhor dos Milagres

Um dos grandes arraiais madeirenses, acontece no mês de Outubro, no Concelho de Machico, a leste da Madeira.

A Festa do Senhor dos Milagres evoca a aluvião ocorrida no dia 9 de Outubro de 1803, que destruiu a capela onde se encontrava a preciosa imagem dos Senhor dos Milagres, que foi arrastada para o mar. Reza a história que três dias depois a imagem apareceu e foi posteriormente entregue na Sé do Funchal.

Em 1813 a imagem regressou à capela do Senhor dos Milagres, em Machico.

Festa da Senhora da Piedade – Caniçal

A tradição da Festa da Senhora da Piedade repete-se todos os anos na freguesia do Caniçal. Milhares de pessoas participam na festa em honra da Senhora da Piedade que se realiza no terceiro fim-de-semana de Setembro.

Trata-se de uma festa em muito semelhante às restantes festas religiosas madeirenses. A particularidade desta festa reside no facto de a procissão ser feita por mar até à pequena capela de Nossa Senhora da Piedade localizada no cimo da encosta, com o mesmo nome. O ritual é o seguinte: no sábado à tarde, há uma procissão que se dirige à capela da Piedade a fim de ir buscar a imagem que permanece na igreja paroquial do Caniçal até ao dia seguinte.

No domingo, o povo junta-se numa nova procissão e vai recolocar a imagem no local de origem, terminando assim a festa.

Dia das Sete Senhoras – Arraial do Monte e da Graça

O 15 de Agosto ficou conhecido, em outros tempos, como o “Dia das Sete Senhoras”, que faz referência aos sete locais da Madeira onde se celebram as Festas Marianas que assinalam a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora.

Em todas estas festas, a celebração religiosa é complementada com o típico arraial madeirense, tornando-se em alguns casos na maior festividade da localidade por coincidir com a padroeira da freguesia ou sítio.

As festas decorrem anualmente, nesta data, nas seguintes localidades: Nossa Senhora do Monte: freguesia do Monte (Funchal) e no sítio dos Lamaceiros (Porto Moniz); Nossa Senhora da Graça: freguesias do Estreito da Calheta, Estreito de Câmara de Lobos e ainda no sítio da Graça (Porto Santo); Nossa Senhora da Guadalupe: freguesia do Porto da Cruz; Nossa Senhora da Ajuda: Serra de Água

Arraial do Monte

No dia 15 de agosto, celebra-se a padroeira do Funchal e de toda a Diocese. Mais do que uma tradição, que se arrasta há largos anos, é acima de tudo uma manifestação de fé que atrai milhares de pessoas ao centro da freguesia. A festa estende-se do Largo da Fonte às Babosas, conhecida pela Capela destruída durante o temporal de fevereiro de 2010 – um novo projeto será erguido no mesmo local.

Um dos «momentos» mais importantes desta festa acontece na véspera, a 14 de agosto. Antigamente os romeiros vinham a pé, em romagem. Hoje em dia chegam de todos os lados pessoas com viatura particular, de autocarro e mais recentemente há quem opte por se deslocar ao arraial através do Teleférico que liga o Funchal ao Monte.

A Festa fica marcada pela forte animação promovida, de forma espontânea, por grupos improvisados que ao som do acordeão, rajão e de outros instrumentos musicais, interpretam quadras ao desafio que chamam a atenção dos que por ali passam. Assim se justifica a expressão popular “No dia 15 de agosto, todos os caminhos vão dar ao Monte”.

As decorações, que merecem particular destaque, são complementadas com as tradicionais barracas de comes e bebes. A espetada, o bolo do caco e as típicas sandes de carne de vinho e alhos marcam presença obrigatória no arraial.

No dia seguinte destaca-se a vertente religiosa. É o culminar das novenas que antecedem o 15 de agosto – nove eucaristias que servem para preparar a festa. A cerimónia religiosa é presidida pelo Bispo da Diocese do Funchal. É também neste dia que os fiéis pagam as promessas, com velas e outros artigos em cera».

Festa de São Martinho

Na Igreja de São Martinho realiza anualmente um grande arraial em honra do seu santo padroeiro, freguesia, onde antigamente aconteciam as tradicionais romagens.

O dia 11 de Novembro é comemorado tanto pela Igreja Católica como pelo povo que aproveita a ocasião para assar as últimas castanhas. A Festa de São Martinho é bem elucidativa da fé e das tradições do povo madeirense. Embora não se saiba ao certo quando é que se começou a celebrar o São Martinho na região, a verdade é que se trata de um costume antigo.

Manda a tradição que na véspera de São Martinho se prove o vinho novo e saboreie o bacalhau assado. Esta antiga tradição é praticada ainda nos dias de hoje.

Música

Os habitantes da Madeira gostam apaixonadamente de música. As crónicas antigas dão conta de grandes romarias religiosas e festas pagãs em que os «muitos instrumentos de violas, guitarras, frautas, rabis e gaitas de fole» se juntavam a uma trovoaria de tambores e bombos, que resultaram na música tradicional madeirense, um género musical que se toca em casa, nas festas e nos arraiais, que se carateriza por despiques e ritmos animados. Pode ser destacado ainda o charamba e a mourisca, cantados, e o Bailinho, que tanto pode ser cantado como dançado. Existem também os jogos cantados.

As canções do trabalho agrícola também eram muito frequentes, mas, estão em vias de extinção. A música religiosa é também frequente: cantigas de reis, do espírito santo e de natal.

Do riquíssimo instrumentário usado na música popular madeirense destacam-se sobretudo os cordofones de mão.

Folclore

O folclore é entendido, em cada região ou país, como uma manifestação genuína das tradições culturais dos povos.

Na ilha da Madeira, realizam-se espetáculos de folclore durante todo o ano, sendo vivido mais intensamente durante as comemorações de determinadas fainas agrícolas, como as vindimas, ceifas e cavas, e durante festas religiosas, arraiais ou romarias.

Nos dias de hoje, a tradição folclórica persiste pelos grupos folclóricos através de danças e do tipico «bailinho». O grande marco do folclore madeirense é traduzido pelo “bailinho”, com o acompanhamento de vozes e música, e pelo conhecido “despique”, onde dois cantores improvisam alternadamente quadras com índole de sátira social. As danças típicas variam entre chamarrita, charamba, mourisca e bailinho das camacheiras.

A música, assim como a dança, do folclore madeirense descrevem o amor, as tradições pastorais e os momentos mais tristes da história da ilha. O pisar das uvas é simbolizado nos passos de dança. O «Baile da Ponta do Sol” tem o particular detalhe de ser dançado de cabeça abaixada e representa o tempo da escravatura e o respeito do escravo ao senhor.

Os instrumentos usados no folclore madeirense são os instrumentos tradicionais como o machete, o rajão, a braguinha, rebeca, viola de arame, acordeão, triângulo e o tradicional “brinquinho” de fabrico local.

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