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Esta é a primeira de uma série de onze memórias de imigrantes portugueses e luso-americanos nos Estados Unidos, recolhidas pelo professor Francisco Cota Fangundes no seu ensaio “A experiência imigrante dos portugueses nos Estados Unidos através das suas autobiografias”. Uma obra sem grandes pretensões que não a de reunir em papel as vidas dos seus compatriotas descrevendo particularidades da época.
A história de Charles Peter é de um imigrante português nascido em 1835, no Faial (Açores) que abandonou a sua ilha aos dez anos de idade a abordo do New London, comandado pelo capitão Christopher Pendleton Jr com destino à Califórnia, Estados Unidos, com a esperança posta num metal muito prezado para a época.
Segundo Fangundes, a vida deste homem foi pouco conhecida entre a colónia lusitana da Califórnia, apesar do status que alcançou entre os arredores de Jackson e comunidades vizinhas por ser um dos mais longevos dos ‘forty-niners’, como se chamava aos imigrantes chegados em 1849 por causa da Febre do Ouro da Califórnia.
Uma das suas façanhas foi seguir a rota do Cabo de Hornos até Sacramento, cidade à qual chegou por volta de 1850, para depois estabelecer-se em Jackson onde a sorte lhe sorriu definitivamente em 1865 com o descobrimento da sua mina de quartzo, a “Good Hope”. Não obstante, o próprio Peters resenha na sua auto-biografia que parte dos seus infortúnios financeiros foram produto dos processos legais por reclamação de propriedades situadas em zonas de ouro, prática muito comum para a época pelo valor que representava o solo.
Outra das razões que levariam Peters à pobreza terá tido a ver com a má gestão da sua mina e com o facto de não ter conseguido os fundos necessários para escavar em maior profundidade, segundo indicaram jornais da época.
A sorte não melhoraria nos anos seguintes. Em 1866, a sua esposa, Lydia Parkinson, morreu no parto do único filho do casal, Charles J. Peters, que faleceu em 1909. É assim como Peters se entrega à solidão de uma cabana situada muito perto da sua mina e pouco depois emergem os problemas mentais e físicos do velho pioneiro, umas das possíveis causas do seu afogamento num rio próximo da sua morada.
A Autobiografia de Charles Peters foi publicada 14 anos depois da sua morte graças à sua decisão, em vida, de colaborar com o escritor T. R. Jones para escrever juntos a sua história. O texto compreendia referências à infância de Peters nas ilhas dos Açores, a sua paixão pela caça da baleia e fundamentalmente dos seus primeiros anos como mineiro de faca nas suas botas, pistola e vaso pendurados à cintura e uma garrafa no seu bolso.