Emigrantes admitem regresso

Alguns portugueses residentes em Paris admitem voltar ao "país santo" que é Portugal

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CORREIO/LUSA

Vários emigrantes portugueses, ouvidos pela Lusa na zona de Paris, onde teve lugar o mais sangrento ataque terrorista, na sexta-feira, 13 de Novembro, admitem sentir medo, e há até quem admita voltar ao «país santo» que é Portugal.

Carlos estava com a família em casa, muito perto do Bataclan, a sala de espectáculos onde mais de 80 pessoas foram assassinadas, a ver a transmissão do jogo particular de futebol França-Alemanha, mas só se apercebeu do que estava a passar quando viu numa nota de rodapé a dar conta de atentados, não só junto ao Estádio de França, como também muito perto de sua casa, num «sítio que está sempre cheio de gente jovem».

Em declarações à Lusa, conta que permaneceu em casa e até fechou as janelas. Assume que sente sobretudo «medo» e uma insegurança crescente, até porque «há 10 meses aconteceram dois atentados, e agora foram sete».

«Não sei se isto vai continuar ou parar», diz com um encolher de ombros.

Também Vítor, que mora igualmente numa rua vizinha ao Bataclan, receia que a situação tenda a piorar, e confidencia que até já falou com a mulher sobre a possibilidade de deixar França e voltar a Portugal.

«Se ficar mais grave, já falei com a minha mulher: temos de ir para Portugal outra vez e vender o que temos aqui, porque estamos mais em segurança em Portugal, não temos conflitos como tem a França», observou.

«É um país santo, Portugal!», exclama a seu lado, com acenos de concordância, Ricardo, outro emigrante português há muito radicado em Paris, que também estava em casa, não longe do Bataclan, quando tudo aconteceu.

Classificando os ataques de sexta-feira à noite, em Paris, como algo simultaneamente «triste e revoltante», admite também ter cada vez mais medo na capital francesa, que, em janeiro, já assistira aos ataques ao semanário Charlie Hebdo.

«Francamente tenho medo. Tenho medo de apanhar o metro na segunda-feira, apanhar para ir para o trabalho; [tenho] a sensação de que pode acontecer a qualquer minuto. Isto não acabou, para mim isto ainda vai continuar», diz.

Para Vítor, «agora a França entrou claramente em guerra», e dentro das próprias fronteiras, ao sofrer ataques de terroristas radicados no país e, em muitos casos, com nacionalidade francesa.

«É um país de acolhimento e agora ainda está a ‘pagar as favas’. Nós estamos aqui, somos um povo emigrante, somos portugueses e estamos aqui para trabalhar, e temos de respeitar o país onde estamos», mas outros atacam o país que os acolhe e ainda por cima matando pessoas «de forma gratuita», lamentou.

Ao terem conhecimento de que havia pelo menos um português entre as vítimas mortais dos atentados de sexta-feira, morto nas imediações do Estádio de França, não escondem o choque e o pesar. «Coitado. Teve azar», deixam escapar com um ar pesaroso.

Português morto em atentados tinha 63 anos e trabalhava na cidade

Tinha 63 anos, viva em Paris, trabalhava em serviços de transportes/turismo e encontrava-se perto do Estádio de França quando as bombas foram activadas. Segundo o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, a vítima portuguesa residia em França.

Até ao momento, segundo José Cesário, em declarações à Lusa, não há indicação de haver mais vítimas mortais ou feridos de nacionalidade portuguesa nos atentados de Paris, estando a Embaixada e o Consulado de Portugal na capital francesa a recolher informações das autoridades locais.

José Cesário alertou para o facto de a França contabilizar como vítimas francesas os cidadãos que possuem dupla nacionalidade, razão pela qual não será de excluir que entre as vítimas possa estar alguém que tenha a cidadania portuguesa.

1 Comentario

  1. Nas décadas passadas, valia a pena o português deixar o próprio país e se aventurar pela Europa, Africa e América Latina. Tudo mudou neste século. Na Europa países como a França são alvo do terrorismo. A Africa do Sul é sempre uma caixinha de surpresas. E a Venezuela, bem, todo o mundo sabe…

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