Joel Melin Abreu
jmabreu@correiodevenezuela.com
Há histórias que precisam ser contadas com luxos e detalhes, pois às vezes os personagens envolvidos deixam uma marca que é impossível deixar passar em claro. É o caso de António dos Santos Araújo, que nasceu na ilha da Madeira, mais especificamente em Câmara de Lobos, a 16 de Dezembro de 1925. Os pais, António dos Santos Araújo e Maria Celeste Soares de Abreu dos Santos, oriundos da mesa zona, viram como António, o mais velho de 13 filhos, se tornou um homem de moral e num líder nato para ajudar os seus irmãos.
Foi por isso que, em 1947, para fugir da guerra, António dos Santos decidiu vir para a Venezuela junto com um tio materno, em busca de numa nova oportunidade para ele e para os seus, e a pouco e pouco, diferentes membros da família foram aproveitando também a oportunidade de tentar uma nova vida em terras venezuelanas.
Depois da sua chegada ao país e de se ter apercebido que podia conseguir um futuro melhor, regressa à sua terra natal em 1950 com o propósito de casar com o amor da sua vida, Filomena Dolores Fernandes. O casamento teve como fabulosa consequência um total de sete filhos: Marilene, Deolanda, Gladys, Tony, Lucy, Gilberto e Jhonny, os quais, por sua vez, deram aos pais a oportunidade de desfrutar de 17 netos e 8 bisnetos.
Com um grande talento e projecção económica, viu como as suas qualidade lhe permitiram envolver-se na economia activa do país, ao fundar a cadeia de supermercados La Carlota. Mas a sua visão não se ficou por aí, pois, na busca de mais sucesso e para poder dar tudo à sua família, abriu as portas de dois reconhecidos restaurantes, El Alazan e El Greco´s, e uma fábrica de carteiras, a Fabulosa.
Alcançar um sonho
António dos Santos sempre deu tudo, não só à família, mas também através de uma grande paixão por ajudar e unir os diferentes membros da comunidade lusitana, que, na década de 60, começava a aumentar vertiginosamente. Foi, por isso, eleito para a presidência do Centro Português em 1965, um clube que à data funcionava em Sebucan. A experiência permitiu-lhe, uma vez mais, exercer os seus inegáveis dotes de liderança, pois, após vários anos de projectos e planos em conjunto com outros membros da comunidade, decidem reunir-se para formar, de forma definitiva, a comissão em favor de uma sede para o Centro Português, o que deu início ao projecto do clube do qual os portugueses e descendentes desfrutam actualmente.
E como se tal contributo não fosse suficiente para António dos Santos, os lusitanos, especialmente os nascidos na ilha da Madeira, agradecem-lhe o facto de ter sido pioneiro na ideia de celebrar o dia da Região, sendo ele o fundador e primeiro presidente da comissão encarregue da referida celebração.
Tudo pela sua família
Possui um currículo invejável e admirável, mas o seu maior feito não cabe num documento do género. É que depois de tantos anos e já com os pais falecidos, ele e os irmãos decidiram organizar uma reunião familiar, em 2009, onde os 13 filhos se reencontraram, mais de 60 netos, 40 bisnetos e alguns tetranetos dos pais de António dos Santos. A reunião, para além de reunir todos novamente, foi também em honra aos desaparecidos fisicamente mas nunca esquecidos.
Cumprindo o lamentável mas inevitável facto da vida, Santos faleceu em Julho desse mesmo ano, deixando uma grande marca com todo o seu percurso como pessoa, amigo, comerciante, e, mais importante, como familiar. Com esforço e dedicação, ajudou a formar um presente de que muitos desfrutam e um futuro de que muitos ainda desfrutarão com a mesma satisfação, e o seu nome será recordado como sinónimo de moral, trabalho duro, valor, respeito, humildade e devoção.
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Títulos pessoais alcançados pelo seu trabalho em prol da sociedade venezuelana e portuguesa residente na Venezuela.
-Em 1967, o Governo português confere-lhe o grau de oficial da Ordem do Infante Dom Henrique
-Em 1968, o Governo venezuelano, pelas mãos do dr. Raul Leoni, outorga-lhe a Ordem Francisco de Miranda na sua terceira classe.
-Em 1975, o Governo venezuelano entrega-lhe, através do Presidente Carlos Andres Pérez, a Ordem Francisco de Miranda na sua segunda classe.
-Em 2002, o Centro Português conferiu-lhe a Ordem João Fernandes Leão Pacheco.
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