Joaquim Martins Santiago nasceu em 1945, em Rio Covo, Águeda, em Aveiro, localidade onde também nasceram os seus pais, António Gomes Santiago e Gracinda de Soto Martins.

Aos 19 anos de idade, casou com Albertina da Fonseca e pouco tempo depois juntou-se ao exército português na luta contra Angola.

Essa etapa marcou-o tanto que tem gravada na pele a data de 15 de Abril, dia em que embarcou no ‘Veracruz’ junto com cerca de cinco mil soldados até terras africanas, onde batalhou durante nove anos, os dois primeiros obrigatórios e os restantes como voluntário.

Mas daquela guerra não conservou apenas a tatuagem no braço esquerdo como também acumulou “muitas vivências que me tornaram um homem mais consciente”, afirma, com o seu eterno sorriso, esse que o caracterizou nos momentos mais duros, “pois devemos ver o lado positivo de tudo, o facto de amanhecer, vermos o sol e continuar com vida são motivos para agradecer a Deus”. E disse isto com propriedade, pois a cada minuto que sentia as balas a rasar-lhe a cabeça, enfrentou a morte cara a cara “e ainda assim pensava com esperança no futuro”. Dormia pouco mas sonhava em grande “com a justiça e a liberdade para todos”. O clima era inclemente “mas em vez de queixar-me, preferi adaptar-me”. Conviveu com os animais selvagens “e posso assegurar que às vezes têm mais sentimentos que muitos humanos que se intitulam civilizados”.

Também aprendeu “que o principal inimigo do homem às vezes é ele mesmo, que a rectidão moral é a melhor arma para vencer o destino e que os sacrifícios maiores valem a pena quando se trata de ajudar os outros”, como fazia cada vez que caminhava a pé, durante 15 dias seguidos, no meio das águas do terceiro rio mais extenso do mundo, com a missão de escoltar os nativos à zona de pesca e assim evitar que fossem raptados. “Proteger os outros dava-me forças, inclusive quando a água me chegava ao pescoço e a praga destroçava-me os pés” recorda, falando dos meses da chuva, quando as margens do rio dilatavam 40 quilómetros para cada lado e Santiago atravessava-o junto com os colegas da tropa.

Inclusive quando esteve entre a vida e a morte por causa da água que os inimigos envenenaram, pensou sempre “que a salvação estava a caminho” e após seis meses hospitalizado e depois de ter sido transferido de Luanda, conseguiu curar-se.

Ao terminar a guerra regressou ao seu amado Portugal mas já não era o mesmo país que tinha deixado e tão pouco ele era o mesmo rapaz de nove anos antes. Assim, em 1957, decidiu emigrar para a Venezuela e começar uma nova história. “Encontrei a paz e formei um lar junto com a minha esposa”.

Primeiro conheceram Caracas e depois mudaram-se para Guatire, “formada naquela altura por inúmeras fazendas de cana-de-açúcar, paisagens belíssimas e poucos edifícios.

Santiago foi testemunha do crescimento de Guatire e protagonista do desenvolvimento cultural da comunidade portuguesa, desde o seu trabalho como director do grupo folclórico Virgem de Fátima. “Estou muito orgulhoso por dirigir este grupo porque adoro o meu Portugal, acho que a cultura é a maior riqueza de um povo. Esse é um dos ensinamentos mais belos que posso dar aos meus filhos e cinco netos”, afirma Santiago, um homem optimista e apaixonado pela vida, com uma história inspiradora e na qual aprendeu “a ser feliz mesmo perante as adversidades”.

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