Anaís Castrellón Castillo
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Com apenas cinco anos, Inês Oliveira chegou à Venezuela para começar uma vida que não quer perder regressando a Portugal, país que considera como seu, esse mesmo onde tem as suas raízes e que vê com respeito e admiração, pois segundo diz, “lá tudo é tranquilo, calmo e aprazível”.
A última vez que visitou o seu país foi em 2005. “Fui como turista e trataram-me como turista. Foi muito bom, tudo era muito bonito, não sei como estará agora, mas fiquei muito surpreendida por ver tanta quietude, ordem e respeito, coisa que não temos aqui na Venezuela.”
É natural dos Açores, mais especificamente de Santa Cruz das Flores, e não se lembra de muito da chegada à Venezuela pois era muito pequena. “Tenho vagas recordações do barco, mas a pouca idade que tinha não me deixa recordar nada para além disso”. Veio para a Venezuela acompanhada do pai e da mãe, Luís Oliveira Martins e Maria dos Santos, e a sua primeira casa foi em Los Teques, no estado Miranda.
Os pais tomaram a iniciativa de emigrar porque tinham oferecido trabalho como agricultor ao pai, e ainda um tecto onde viver, o que os fez se fixarem no estado Aragua, onde Inês reside actualmente.
Era outra Venezuela
Estudou no Colégio José Ángel Lamas de Cagua, estado Carabobo, até ao ciclo, época da qual não tem muitas recordações, mas o que tem muito claro dessa altura é que “era outra Venezuela, nessa época a Venezuela era um país tranquilo, acho que se matavam um gato na auto-estrada, saía em todos os jornais de circulação nacional, muito diferente dos casos desastrosos que estavam a acontecer na Europa.”
“Recordo-me que em menina ia ao parque e não tinha medo de nada. Era, definitivamente, outra época, outra formação e não importava se eras menino ou menina, o regime era igual para todos.”
Depois de sair da escola secundária, casou, tinha apenas 18 anos. “Casei-me com um homem da mesma zona em que eu morava, que é a mal chamada zona industrial. Ele pertenceu à segunda vaga de emigração que veio para a Venezuela e com ele tive três filhos: Um é engenheiro, um dramaturgo e o mais novo é contabilista”. Este último é quem a ajuda diariamente.
‘Lencería Oliveira’
Com muito amor e sacrifício, Inês criou o seu próprio negócio, que já tem 22 anos, e que se chama ‘Lencería Oliveira’. “Iniciei-a já adulta, os meus filhos eram grandes, adolescentes, e eu já não tinha que cuidar tanto deles. A partir daí senti-me sem muito que fazer, e como gostava muito de decoração, decidi criar a minha ‘lencería’.
Começou na garagem da sua casa, que acondicionou, meteu máquinas e ali começou tudo. Só tinha uma pessoa que a ajudava, “mas depois fui crescendo, tive três locais e agora, desde há uns largos anos, estou no mesmo local”.
A sua rotina diária gira em torno do negócio, “tomo o pequeno-almoço bem cedo e vou trabalhar, passo todo o dia ali, nos bastidores, fazendo cortinas, colchas e lençóis em geral” que ela mesma cose pois, como disse, gosta muito de decoração e sente que isso está nas suas raízes, no seu sangue, pois a sua família por parte da mãe dedicou-se ao ramo durante muitos anos.
“A loja é gerida pelo meu filho e pela minha nora, eu não sei nada de números, posso atender um cliente com muito carinho mas não sou boa para isso, quem sabe disso é o meu filho mais novo, os outros dois são independentes.”
O filho dedica-se às lâmpadas, iluminação e todo o trabalho rústico e Inês dedica-se à decoração “mas o mais importante é que faço o que gosto e faço-o com amor, porque é o que me enche de satisfação.”
Sem regresso
Do seu país natal recorda coisas bonitas da sua última viagem, mas no entanto “não gostaria de regressar porque com a vida que assumi na Venezuela, não seria capaz de mudar-me para lá, e os meus filhos já são adultos. Se tivesse querido voltar, seria quando eles eram pequenos, pior seria mais tarde, pois cada um tem a sua vida feita.”
Da última vez que esteve em Portugal, foi a Fátima, Lisboa, Porto, “percorremos parte do continente mas não fomos às ilhas”, disse. E falando de praias, diz que não há como as da Venezuela, “porque em Portugal o clima não é agradável, aqui não nos queixamos das praias, porque as temos de sobra, mas sim o cuidado com elas. Aqui temos Choroní, Ocumare, Cuyagua, e nos outros países o clima não ajuda.”