Entre o enorme grupo de emigrantes portugueses que deixaram marca na Venezuela está João da Costa, presidente do Instituto Português de Cultura. É professor de Português no CP e trabalha numa empresa de marketing.
João da Costa Lopes nasceu em Lisboa em Dezembro de 1942 e chegou à Venezuela em 1958. “Os meus pais vieram à frente, em 1956. Foram primeiro para a República Dominicana. Depois vieram para a Venezuela. Chegámos a Caracas, à Avenida Andrés Bello. Depois fui para Cumaná, depois Barinas e por último, acabei em Caracas”.
Tem uma irmã formada pela Universidade Central de Venezuela em Línguas. O pai morreu e a mãe vive actualmente na capital lusitana. O pai era de Setúbal mas vivia em Lisboa. “Nascemos mas os nossos pais escolhem onde nascemos. Ainda que digo sempre que escolhi ser português porque vivo na Venezuela. Continuo a manter a minha nacionalidade, é uma escolha. Nunca optei por ter a nacionalidade venezuelana. Atenção, isso não quer dizer que não gosto da Venezuela, mas gosto mais do meu país, nasci lá. Inclusive viajo sempre todos os anos, faço-o desde o 25 de Abril”, sublinha.
Tem três filhas. Actualmente, todas vivem no estrangeiro, foram em busca de uma vida melhor. “Uma está em Espanha, a outra em Inglaterra e a mais nova em França. A mais velha estudou artes dramáticas e jornalismo; a segunda hotelaria na Suíça e a última engenharia agrónoma em França. Todas estão fora e de certa forma, tenho casa em todos esses países, em Portugal e na Venezuela. Parece que sou um magnata mas não, são as circunstâncias da vida”, contou.
Fez parte da sua educação em Portugal e a outra na Venezuela. Quando chegou ao país tinha 16 anos, e terminou o secundário aqui, no Gustavo Herrera. “Fiz os meus estudos superiores na Universidade Católica Andrés Bello, quando ficava situada na esquina dos Jesuítas, foi o seu último ano aí nessa zona, em 1968. Mas nunca trabalhei como jornalista, fi-lo na área de publicidade e marketing. Inclusive dei aulas de marketing na Universidade Metropolitana e no Instituto Universitário Novas Profissões”, explicou.
Não exerceu jornalismo por diferentes motivos. “Gostava de escrever. Mas dei-me de conta, a meio do curso, que para ser jornalista tinha de ser venezuelano e tinha apenas uma nacionalidade nessa altura. Então abandonei a ideia de ser jornalista”, apontou.
Não se especializou em publicidade e marketing. No entanto, com o passar dos anos tornou-se um especialista. “Estudei de noite e trabalhava na área publicitária de dia, desde 1961. Passei por muitas empresas. Agora estou na área do marketing turístico. Quando estava a estudar jornalismo eram dadas aulas de publicidade. No entanto, embora tenha recebido alguma formação académica, foi algo completamente empírico. O que me ajudou muito foi assistir a congressos internacionais de marketing”, relatou.
Também dá aulas de Português no CP, aos sábados, há 20 anos, desde que começaram. “Tenho 20 alunos por sala, uns 40 no total. Em geral, são mais adultos. Adoro dar aulas, quando dava aulas de marketing também adorava. Adoro dar aulas de Português e falar da cultura portuguesa. Penso que quando se dá aulas de qualquer idioma, deve-se dar a conhecer a cultura desse país. Já fazia parte do Instituto Português de Cultura em 1985. Mas como sou atrevido, ofereci-me para dar aulas e foi completamente empírico. Os meus alunos, graças a Deus, não se queixam das minhas aulas”, assinalou.
Considera que o ensino da língua portuguesa está em franca ascensão. “Está a ser feito um grande esforço para divulgar a língua portuguesa, e através dela podemos divulgar a cultura. Nos últimos 15 anos, despertou um interesse em aprender a língua portuguesa. Isso deixa-me contente. Há muitos anos, muitos filhos de portugueses não queriam assumir que eram filhos de portugueses, sentiam certa vergonha. Hoje, felizmente, por diversas razões, esse panorama mudou. Isso acontece porque muitos portugueses não se preocuparam em falar Português em casa.”