Veio de Câmara de Lobos, e chegou a Caracas numa altura em que a cidade começava a receber portugueses. Com os seus 20 anos, João Rodrigues Aguiar chegou com uma mala cheia de sonhos e começou a trabalhar com esmero, sem imaginar que conseguiria muito mais do que procurava, até tornar-se num dos portugueses mais proeminentes da história lusa na Venezuela.
Como qualquer emigrante, Rodrigues Aguiar trabalhou durante algum tempo em “tarefas complicadas”, honrando a ideia de elevar bem alto o nome de Portugal, e especialmente da Madeira no mundo. Mas o seu maior legado partiu de uma ideia que se tornou em algo quotidiano para todos: A criação do primeiro supermercado.
Criador e fundador do recordado Supermercado Porto, o seu legado eleva-se na história da portugalidade venezuelana como peça fundamental para a construção da nova Caracas, essa em que a emigração portuguesa soube como valorizar o seu trabalho, superando as adversidades e trabalhando por longas horas para dar o exemplo entre conterrâneos e anfitriões.
João Rodrigues Aguiar foi, durante anos, o guia principal, conselheiro e protector de inúmeros portugueses que chegavam à Venezuela em busca de prosperidade e qualidade de vida. O seu trabalho nesse sentido nunca será diminuído e muito menos esquecido.
Numa publicação destacada do livro de 1959 ‘Epopeia do emigrante insular’, de Mota de Vasconcelos, este português é descrito como um homem “de pouca cultura intelectual mas de grande e inconfundível personalidade, impulsionado por um forte dinamismo e pela vontade firme de superação, que não conhece obstáculos. João Rodrigues Aguiar é de espírito optimista, visão sensata e colaborador leal, foi também um dos primeiros portugueses na Venezuela a sentir a necessidade de um movimento associativo na comunidade, por isso, promoveu, a fundação do Centro Social Português (Casa da Madeira), do qual foi presidente e o seu mais dedicado servidor.”
Na referida publicação, e como testemunho de quem o conheceu em vida, diz-se que Rodrigues Aguiar não só se interessava pelo trabalho na capital, mas que era, sim, um desses homens capazes de dar a volta à Venezuela para servir os interesses morais da comunidade portuguesa.
Não pode haver dúvidas que Câmara de Lobos, a sua querida e recordada terra, deve distinções dignas de registo, por um trabalho tão dedicado ao longo dos anos, em prol do prestígio de Portugal na Venezuela. Como bem citava o livro de Mota de Vasconcelos, “o que lhe falta em cultura, sobra-lhe na inteligência, astúcia e dedicação.”