Natural da Madeira, chegou à Venezuela a 2 de Fevereiro de 1955, no navio Santa Maria. Madalena Mendes de Lira, conhecida hoje em dia pela sua alegria e boa disposição e como a ‘avozinha’ de Monterrey, uma populosa zona do Este de Caracas.

Madalena nasceu a 15 de Dezembro de 1928, na Ponta do Pargo, concelho da Calheta, onde viveu anos felizes, e de que ainda sente a falta, assim como da família, que se dedicava à agricultura. Anos mais tarde, casou-se com um conterrâneo, Manuel Lira, que em breve tomaria a decisão de vir para a Venezuela para oferecer um futuro melhor à sua família, enquanto Madalena cuidava da casa na Ponta do Pargo, onde ficou com o primeiro filho.

Mendes passou seis anos sem ver o marido, até que tomou a decisão de vir acompanhá-lo. Empreendeu uma das viagens mais longas da sua vida, com a emoção que tinha devido ao reencontro com o marido, pelo que o entusiasmo no navio era constante, onde fez amigos sem muito esforço, pois despertava nas pessoas um sentimento de amizade quase instantâneo.

Esperava ansiosa que a tripulação indicasse que tinham chegado a terra firme. Seria a primeira vez que veria o seu amado Manuel em mais de seis anos. “Tudo era diferente e nos portos, achava bonito ver as pessoas a se despedirem com muitas flores”, diz.

A terra prometida

Aoreencontra-se com o marido, este levou-a para Antímano, a Oeste da capital, onde, à época, ainda se conservavam tradições agrícolas. Anos mais tarde, decidiram assentar em Mamera, onde montaram um produção de porcos, que depois deixaram para ir para Monterey, localidade onde se encontra até aos dias de hoje.

Do seu casamento de 50 anos, guarda com zelo as recordações, e evoca o mais sagrado para ela: Os cinco filhos, Manuel, António, Francisco, Teresa e Fernando. Aos poucos, foi superando as adversidades para seguir em frente.

Madalena sempre foi uma dona de casa abnegada, e como boa católica, nunca perdeu a oportunidade de ajudar o próximo, o que a tornou famosa na zona onde vive. Abriu as portas do seu lar a conhecidos e estranhos, clérigos e laicos, que a visitam para ver o altar que preparou com esmero e muito esforço à sua querida Virgem de Fátima.

Entre confusas palavras de português e espanhol, recebe quem vai a sua casa e ao seu altar para pedir algum milagre ou favor, pois, apesar do tempo que já vive na Venezuela, confessa que o idioma é o que mais lhe custa.

Divina missão

“O seu carinho pelas pessoas é o que a torna especial, está sempre disposta a dar um conselho e a dar apoio a quem precisa. Faz uns rosários maravilhosos em sua casa, e vários sacerdotes visitam-na e dão lá a missa. Um sacerdote do Equador reconheceu o seu trabalho, pois os miúdos da rua pedem a sua ajuda e ela nunca nega um copo de água ou um pedaço de pão a ninguém, mesmo quando a situação económica é difícil, jamais negou ajuda a ninguém”, conta uma das vizinhas.

Até o Papa João Paulo II quis conhecê-la. Ao saber do trabalho desta mulher portuguesa na Venezuela, trocou algumas cartas com ela, nas quais o Sumo Pontífice elogiava o trabalho que Madalena fazia a partir do seu humilde lar, pois até os delinquentes a respeitam e pedem a sua bênção.

Madalena não tem hora fixa para rezar o rosário, e acede sempre aos pedidos das pessoas para rezar por elas. A sua casa converteu-se num ponto de paragem obrigatória na zona para todos quantos precisam de rezar para resolver um problema, e a visita dos sacerdotes é constante.

Os vizinhos asseguram que Madalena é uma mulher muito lutadora, que passou por muitas necessidades, e agora, assim como ela ajudou tantos, precisa da ajuda de outros para adquirir os medicamentos com os quais controla a diabetes. Os seus vizinhos, também portugueses, lutam para que ela possa receber a pensão portuguesa para assim cobrir os gastos com os medicamentos.

A última vez que Madalena esteve em Portugal foi há pouco mais de 40 anos. No entanto, diz que só regressaria de visita, pois não estaria disposta a viver longe dos filhos.

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