Desde pequena as suas recordações envolviam o âmbito musical e cultural do seu país.
Há pessoas que nascem com a magia da música no corpo, com o dom de tocar um instrumento e com a facilidade de mostrar aos outros o que a natureza lhes deu. Maria Eugénia Castro, é uma dessas mulheres que nasceu com o ouvido e sangue musical.
Ter nascido em Fermentelos, onde se encontra a lagoa natural maior da região ibérica, não só lhe abriu as portas para a cena cultural e musical do seu país, mas também, como orgulhosamente o diz “sei conduzir barcos a remos”.
“Desde criança recordo-me de estarem cima de um palco, se havia um acto na escola aí estava eu em primeiro lugar”, comenta Maria Eugenia, a qual estudou música com professores privados, além de participar no grupo Acordeões de Oliveira do Bairro. “O amor pela cultura vem de família, porque o meu avô e o seu irmão foram músicos, a minha mãe e o meu tio bailarinos, o meu pai também esteve envolvido em grupos folclóricos. Conheci o meu esposo na escola de música, ambos formávamos parte de um grupo musical. Todos lá em casa somos músicos, já vem no sangue”, disse.
Férias sem regresso
Maria Eugenia, na companhia do seu esposo e filhos chegou de férias à Venezuela faz 25 anos, e por essas voltas da vida Barquisimeto, berço musical da Venezuela, converteu-se no seu novo lar. “A primeira vez vim de visita e senti-me em casa. Eu não sei explicá-lo, mas foi como se tivesse vivido aqui toda a minha vida”, disse
Ainda que o seu inicio na terra do “tamunangue” foram numa padaria, sempre esteve conectada com o âmbito musical através dos seus dois filhos, Bruno e Diego, os quais faziam parte de uma Tuna no colégio.
Pelos seus conhecimentos, no princípio tinha-se solicitado os serviços de Maria Eugenia para formar o grupo folclórico do Centro Luso Larense, o que implicou um grande projecto para esta carismática mulher que desde o princípio quis fazer as coisas como deveriam ser, utilizando trajes originais de Portugal. “Eu quando aceito fazer algo mete-mo de corpo e alma, ou o faço bem ou não o faço”, assenta segura do seu desempenho profissional.
Foi assim que uma coisa foi levando a outra e traçou como desenlace um projecto totalmente diferente. “Ocorreu-me trazer a Tuna onde participava o meu filho mais velho ao clube, e toda a gente gostou e começaram a perguntar porque que eu não fazia algo assim no clube”, recorda sobre como foi que se começaram a estudar diferentes projectos, que desembocaram na criação de uma escola de música para formar artistas no mesmo clube, a actividade que se mantém ininterruptamente desde a sua criação há 16 anos.
Seis meses mais tarde estava a realizar-se a primeira apresentação oficial daquela Tuna. “Ensinávamos bandolim, ‘quatro’ guitarra, todo o que os rapazes queriam aprender, ensinávamos no primeiro ano estava a gravar o primeiro disco, depois disso gravamos outros dois mais”, comenta Maria Eugenia, autora deste projecto que inclui música folclórica portuguesa e venezuelana, além da música religiosa que interpretavam nas missas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, instituição fundada por portugueses.
Viver para a música
A sua profissão permitiu envolver-se não só com a comunidade portuguesa, mas também com os venezuelanos através de intercâmbios com diferentes organizações na região como o Conservatório de música Luís Emílio Sojo,’ Las Voces Blancas’ e o coro da Sinfónica de Lara. “ Este é um trabalho que me preenche, que me fascina. Há dias que um sente-se muito pressionado porque este é um trabalho que te absorve muito, mas que por sua vez te dá muitas satisfações. Tenho conhecido muita gente no mundo da música e da cultura”, acrescenta.
Entre a responsabilidade que leva Castro no seu cargo, encontram-se as festas dos Santos no Centro Luso Larense, onde a comunidade sabe que durante uma noite irá transportar-se a um pequeno Portugal na sede do clube. “Trato de trazer as marchas populares de Portugal, não podemos sair à rua mas aqui dentro fazemo-lo. Transformamos o clube numa revista musical. Essas noites aqui cheira a manjerico”, conta sobre a experiência.
Carreira de satisfações
Actualmente Maria Eugenia encontra-se a apoiar um projecto musical do seu filho mais novo, conhecido como 2Tão frio o Verão2, mas entre as suas aspirações surge um sonho, o de formar uma “rockesta”, projecto com o qual teve contacto em uma das suas últimas visitas a Portugal. “Trata-se de uma orquestra que toque peças clássicas de Mozart, Beethoven, Bach, com influências de rock, ou seja que se incluam instrumentos como bateria, guitarras eléctricas”, descreve.
Para muitos, levar uma carreira no mundo artístico representa grandes sacrifícios, contudo Maria Eugenia tem sabido equilibrar o seu trabalho com a família, e a espiritualidade, características relevantes da sua personalidade. “Tenho recebido muitíssimas satisfações, mas acredito que a que me preenche mais é o contacto com as pessoas, com outra cultura. A linguagem da música é universal, não tem idiomas. Ainda que tenha vindo sozinha com o meu esposo e filhos, agora sinto que tenho a maior família do mundo, porque onde quer que vá conheço toda a gente, todos me recebem bem”, conclui.