Nesta edição, dedicamos este espaço a Mário de Sá-Carneiro (Lisboa, 19 de Maio de 1890 — Paris, 26 de Abril de 1916), que foi poeta, contista e novelista português, um dos expoentes do Modernismo em Portugal.
Começou a escrever poesia com apenas 12 anos, aos 15 já traduzia Victor Hugo, e aos 16 Goethe e Schiller. Mudou-se para Coimbra aos 19 anos e matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, ainda que não tenha ficado ali muito tempo. Conheceu aquele que seria o seu grande amigo, Fernando Pessoa, que o motivou a indagar sobre o Modernismo, junto com José de Almada Negreiros. Foi estudar para Paris, mas deixou a cidade pouco depois. Foi lá que conheceu Guilherme de Santa-Rita, pintor futurista português.
Com o estalar da Primeira Guerra Mundial, Sá-Carneiro foi para Lisboa e tornou-se num dos maus famosos membros da chamada Geração de Orpheu. A sua obra revela influências de várias correntes literárias, como o decadentismo, o simbolismo ou o saudosismo, e posteriormente chegou ao interseccionismo, o paulismo e o futurismo. Aprofundou a métrica tradicional (redondilhas, decassílabos, alexandrinos), mas acrescentava-lhe jogos de palavras e mudanças de sintaxe, tão característicos no Modernismo.
Para saber mais sobre Sá-Carneiro, nada melhor do que um dos seus poemas, intitulado Estátua Falsa:
Só de ouro falso os meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minha’alma desceu veladamente.
Na minha dôr quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distância.
Já não estremeço em face do segredo;
Nada me aloira já, nada me aterra:
A vida corre sobre mim em guerra,
E nem sequer um arrepio de medo!
Sou estrela ébria que perdeu os céus,
Sereia louca que deixou o mar;
Sou templo prestes a ruir sem deus,
Estátua falsa ainda erguida ao ar…