Ler está na moda: Música para ler

0
772

A literatura está em todo o lado. No fado, por exemplo, encontramo-la inúmeras vezes nas letras das canções e em compositores que musicalizam os poemas, como foi o caso de Alain Oulman. Por isso, hoje dedicamos esta coluna a este músico apaixonado pela literatura. Filho de um casal francês, desde tenra idade que se encantou pela leitura, em especial a poesia, ainda que no início o seu rumo tenha ido para longe disso. Ao morrer um irmão na II Guerra Mundial, tomou conta dos negócios do pai, estudou química e dedicou-se às empresas familiares. Ainda assim, o destino continuou a girar, até que chegou ao ponto em que se pôde dedicar à sua paixão pela composição. Enfrentou barreiras políticas, enfrentou o regime, ganhou e perdeu batalhas, foi desterrado, mas manteve sempre o espírito, e isso reflectiu-se nos seus trabalhos com célebres fadistas como Amália Rodrigues, a quem um dia mostrou o poema ‘Vagabundo’, de Luís Macedo: “Já disse adeus a tanta terra, a tanta gente,/Nunca senti meu coração tão magoado,/Inquieto por saber que o tempo vai passar/E tu vais esquecer o nosso fado/Partidas, / (Cada vez mais sombria, cansada),/ São nuvens negras em céu azul,/ São ondas de naufrágio em mar fundo./ No meu deserto não vejo abrigo/ Sem ter um amor neste mundo/ Mas se eu voltar e como penso me esqueceste,/Troco por outro o coração amargurado./Tentarei não fazer mais castelos no ar/E nunca mais viver outro fado”

Assim como esse poema, outros inspiraram-no a dar música a letras. “Tenho feito, no que me toca, sempre a música para um poema já escolhido. Só me lembro de um caso em que se passou o contrário: ‘A Gaivota’, de Alexandre O’Neill, que foi escrita para uma música que já tinha composta” (A Capital, 27 de Fevereiro, 1971).

O seu contributo foi, sem dúvida, maravilhoso, complementando com a sua música tantos poemas. Que seria  ‘Madrugada de Alfama’, de David Mourão-Ferreira, sem a criação de Oulman? “Mora num beco de Alfama/ e chamam-lhe a madrugada,/ mas ela, de tão estouvada/ nem sabe como se chama (…)E a sua colcha amarela/ a brilhar sobre Lisboa,/ é como a estatua de proa/ que anuncia a caravela,/ a sua colcha amarela/ a brilhar sobre Lisboa”.

Dejar respuesta

Please enter your comment!
Please enter your name here