O nome de António Pestana saltou para a ribalta depois de ter sido projectado um documentário sobre a história do Salto Ángel, ou Kerepakupay-Vená, o seu nome original em pemón. O filme começou, desde cedo, a colher os seus frutos no estrangeiro, alcançando o título de Melhor Fotografia no Festival de Cinema de Montanha da Patagónia, onde concorreu com outros 80 trabalhos.
Agora, o documentário, que foi uma ideia sua, patrocina uma campanha mundial para conseguir um lugar para a queda de água mais alta do mundo na lista das 7 maravilhas do mundo. Este homem nascido no Curaçau e filho de madeirenses enamorou-se tanto da selva venezuelana que agora não lhe sobra tempo para procurar ideias para enaltecer a importância destes espaços virgens.
É um cidadão do mundo, viveu no Canadá, Brasil, Estados Unidos, Espanha e Portugal, e fala cinco idiomas, mas ainda assim este Indiana Jones português confessa-se «apaixonado pela selva».
Pestana, a quem os indígenas pemones da zona conhecem como El Portu, falou com o CORREIO sobre a história desta selva tropical.
-Como chegou até Canaima?
-Eu vendia doces num negócio em Aragua e estava a atravessar uma crise pessoal, pelo que me mudei para Ciudad Guayana e decidi fazer algo que não tivesse nada a ver com o meu passado. Nesse momento, estavam a procurar pessoas que falassem vários idiomas para guias turísticos, e eu encaixava no perfil. Mudei-me para Portugal em 96, trazia gente à Venezuela com a Viasa, da Madeira e de Lisboa, como ‘tour leader’, e só durei seis meses, porque um dia estava a ver vídeos e filmes de Canaima e a minha disse-me: «O teu coração e a tua alma estão lá, vais embora».
-Foi uma mudança radical. Como tomou a decisão?
-Estar num avião 200 vezes ao ano era muito enriquecedor, os multimilionários têm de pagar para fazer isso, e a mim pagavam-me para entrar tantas vezes num avião, e às vezes em aviões que ‘aterravam’ em rios. Com essa experiência, nasceu o meu interesse pelo ecoturismo.
-O que é que Canaima representa para si?
-Esse é o local que mais amo, apesar de me sentir português. Quando chego ali é com se voltasse a ser criança, sinto-me no meu lar, encontro a minha paz.
-O que tanto o enamorou neste local?
-Foi um enamoramento progressivo, mas houve atracção desde o primeiro minuto. Nasci numa ilha, fui criado noutra, estive rodeado de mar toda a minha vida, nunca tive selva, e sempre tive a curiosidade, por isso acho que quando vi algo diferente do mar, isso marcou-me, para além de que é algo fora do normal. Não troco o Salto Ángel por nada deste mundo.
-E o seu sotaque de onde é?
-Quando vivia no Curaçau, os meus pais falavam em português em casa para me ensinarem, na rua tinha de falar ‘papiamento’ e na escola holandês, era um ‘pasticho’ o que eu tinha. Depois cheguei à Venezuela com 15 anos.
-De onde nasceu a ideia de fazer este documentário?
-Hollywood tem vários filmes inspirados nesse local: ‘Avatar’, ‘Aracnofobia’, ‘Jungle to jungle’, ‘Up’, e entre as vindas da RTP Portugal, National Geographic, e outros canais, fiquei com o ‘bichinho’ do interesse pelo audiovisual, e pus-me a pensar porquê que na Venezuela ainda não se tinha feito um filme a história do Salto Ángel, e assim comecei a indagar sobre o tema.
-O que procuram projectar com este trabalho?
-Quisemos clarificar o nome, porque não é Churúm Merú mas sim Kerepakupay-Vená. Foi um desafio, são dois anos de trabalho. Agora estamos a terminar este filme, que foi uma experiência e uma prova, e depois continuarei com este tipo de projectos. Quisemos transmitir uma mensagem educativa, ecológica e para além disso, render homenagem aos indígenas da zona, que são os pemones, por isso o nome está em pemón, e também as mulheres, porque foi uma mulher que dirigiu a primeira expedição que chegou ali.
-Qualquer pessoa pode visitar o Parque Nacional Canaima?
-Nem toda a gente pode fazer ecoturismo, há que fazê-lo com pessoas que estejam devidamente capacitadas.
-E agora que planos tem?
-Um dos meus sonhos é fazer o filme sobre a história do Jimmy Angel, mas esse é um projecto mais ambicioso, para além de continuar a seguir esse ‘bichinho’ que me diz que quero fazer agora mais 30 filmes como este, mas evidentemente sou um guia da selva, pelo que quero desenvolver um produto, trabalhar num acampamento que seja piloto e que marque um antes e um depois de como devem fazer-se as coisas no Parque Nacional Canaima.
Para informação sobre projecções de Kerepajupay-Vená, pode contactar através dos endereços electrónicos ecoalianza2@gmail.com ou antonio@votasaltoangel.com.